Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Reflexos

MENU

Na altura, residia eu em Lusaka, capital da Zâmbia. Iniciei a viagem de avião para Dakar, Senegal, o que implicou duas escalas: uma em Nairobi, Quénia, e outra em Adis Abeba, Etiópia. Em Nairobi, fiquei dois dias, à espera de avião, que não era diário. Por isso, resolvi tirar partido dessa estadia e visitar o parque natural mais próximo da cidade – o Parque Nacional de Nairobi.

Era Maio e tinha chovido bastante, mas a agência que se propunha organizar o safari não viu nesse facto qualquer constrangimento. Não era uma altura – nem uma época – de afluxo turístico, não na dimensão que hoje existe, depois do Quénia ter investido em propaganda e ter ficado na moda. Nesta agência em particular, havia apenas mais um outro interessado no safari, um homem jovem holandês que viajava sozinho. Na hora aprazada, apresentou-se um condutor com uma carrinha “station”, banal, cujo banco traseiro ocupámos. Surpreendi-me por não ser um jeep, dada a minha anterior experiência destas andanças. Mas confiei. E lá seguimos pela estrada principal por uns 15 km, até chegar ao portão de grades que nos facultou o acesso ao parque. O porteiro avisou que, devido às chuvas, alguns caminhos tinham bastante lama. Mas seguimos, mesmo assim. Perguntei se era seguro, mas balbuciou que o guia era experiente e era uma questão de escolher os caminhos mais transitáveis, pois havia zonas alagadas.

Os caminhos eram de terra batida, mas rapidamente se transformaram em picadas, com as ervas calcadas nos trilhos que os automóveis foram sulcando ao longo do tempo. No início, claro, não nos cruzámos com animais de grande porte, que preferem viver tranquilos embrenhados na floresta. Mas o guia lá ia explicando e apontando um ou outro animal menor que se ia avistando. Lembro-me, em particular, de nos ter indicado uma pequena tartaruga que cruzava a estrada, porque me interroguei se uma banal tartaruga valia a pena ser mencionada. Mas à falta de outro… ou ele pensaria que, para nós, seria um animal exótico?

Nairobi National Park.jpg

À medida que nos íamos embrenhando no parque, as picadas apresentavam-se cada vez com mais lama e comecei a ficar inquieta. Até que numa bifurcação, havia que escolher a que mais segura parecia, ainda que ambos os caminhos mostrassem bastante lama mole. O perigo era que a carrinha pudesse ficar atolada e nós ali presos, já que não tinha tracção às quatro rodas para poder libertar-se. O condutor parou por um momento, avaliou as alternativas e optou pela da direita. E arrancou. Não foram precisos muitos metros para ver que o perigo era eminente e, logo adiante, o inevitável aconteceu: as rodas ficaram presas na lama e o carro deixou de avançar. O condutor fez as tentativas usuais de acelerar para libertar o rodado, mas isso só contribuiu para o veículo se ir enterrando mais e mais, até que começou a ser sorvido pelo solo. Alarme! Um dos lados, o direito, aparentemente, estava sobre lama mais profunda e o carro foi mergulhando desse lado, que era o meu, inclinando-se cada vez mais e de tal maneira, que o meu companheiro de safari começou a deslizar pelo assento na minha direcção e teve que se segurar às pegas do tecto e da porta do seu lado para não me abalroar. Tudo isto acontecendo em poucos minutos e cada vez mais depressa à medida que progredia, sem que pudéssemos fazer nada para contrariar esta inclinação progressiva. Era um filme dramático em câmara lenta. A sensação era a de que estávamos a ser sorvidos por areias movediças. E o carro, ao inclinar-se sobre o lado direito, elevou-se do lado esquerdo e as rodas deixaram o chão! 

 

Biografia da Autora

MC 13 Jan 16

 

Licenciada em Biologia pela Universidade de Lisboa (Faculdade de Ciências, cujo edifício é hoje um museu) e estágio pedagógico no Liceu Passos Manuel, Lisboa, é mestre (M.A.) em Ciências da Educação pela Northwestern University (School of Education), E.U.A., e doutora (Ph.D.) na mesma área pela Universidade de Estocolmo (Institute of International Education), Suécia. Especializou-se em Desenvolvimento Curricular, Política Educativa e Educação e Desenvolvimento.

Durante mais de uma década no Ministério da Educação português, teve responsabilidades como formadora de professores, investigadora, avaliadora, técnica pedagógica, assessora de gabinete, coordenadora e chefe de serviço. Distingue-se a sua participação na Reforma Educativa do Ensino Unificado do pós-25 de Abril e no subsequente Projecto de Avaliação dessa reforma, bem como a presidência da comissão instaladora da primeira escola do Estado Português no estrangeiro – Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa.

Com uma longa experiência como consultora nas áreas de Educação e Administração Pública para diversas agências de cooperação internacional, entre elas a sueca SIDA (ASDI em português) e UNESCO/BREDA, em vários países africanos incluindo todos os PALOP, viveu largos anos na Suécia, em Moçambique e em Cabo Verde.

Foi docente de pós-graduação na Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, Portugal, e no Instituto Inter-Universitário de Macau (hoje Universidade de São José), bem como de formação a distância. Foi formadora de professores do Ensino Básico e Secundário, em Portugal. Em Cabo Verde, foi docente da Licenciatura em Ciências de Educação na Universidade de Santiago e coordenadora de pós-graduação, bem como docente de Métodos de Investigação no Instituto de Ciências Jurídicas e Sociais e na Universidade de Cabo Verde.

É investigadora associada da Unidade de Investigação Educação e Desenvolvimento (UIED) da Universidade Nova de Lisboa, Portugal.

Publicou vários livros e textos de apoio para professores e outras obras (que pode consultar aqui).

(2016) Áudiolivro – Crónicas d’Diazá. Praia, Cabo Verde. Co-produção com Praia FM2 – Rádiu Kultura (2011). In “Esquina do Tempo” (blog).

(2011) Investigação Científica e Integração Regional: Realidade e Perspectivas - Comunicações e Declaração da Praia sobre Investigação e Desenvolvimento. Praia: Instituto de África Ocidental (IAO) / Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro (IBNL). (Co-organizadora com Manuel Brito-Semedo)

(2007) O Ensino Português nos Países Lusófonos – A Escola Portuguesa de Moçambique e a Interculturalidade. Lisboa: UIED, Universidade Nova de Lisboa.

(2005) Auto-Avaliação da Escola: 2ª Fase-Inquéritos – Interpretando os Resultados. Lisboa: Escola Secundária de São João do Estoril. (documento interno)

(2005) Perfil Socio-Económico da População Escolar – 2003/2004: Culturas na Escola. Lisboa: Escola Secundária de São João do Estoril.

(2004) Aproveitamento da População Escolar – 2002/03. Lisboa: Escola Secundária de São João do Estoril.

(2000-2001) Micaia, N.os 1 a 4, direcção e co-edição. Maputo: Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa.

(1990) Educational Reform Under Political Transition: A Study of Change in Portuguese Education in the 1970's. Estocolmo: Studies in Comparative and International Education Nº19, Institute of International Education, Stockholm University.

 (1982/83) As Correntes Actuais da Pedagogia e sua Inserção Política, Económica e Social, Fascículos 1 a 5 do Curso de Complemento de Formação para Professores de Trabalhos Manuais e 12º Grupo. Lisboa: Ministério da Educação e Universidade de Aveiro (co‑autora com C. Varela de Freitas e Maria Luísa de Freitas).

 (1979) Guia de Avaliação do Rendimento Escolar. Lisboa: Didáctica Editora (co‑autora com Maria Luiza Vasconcelos).

 (1976-1980) cinco publicações sobre os resultados do Projecto de Avaliação do Ensino Secundário Unificado. Lisboa: Gabinete de Estudos e Planeamento, Ministério da Educação.

 (1975/76) quatro Textos de Apoio para professores em Avaliação do Rendimento Escolar. Lisboa: Secretariado para a Formação de Professores, Ministério da Educação.

 (1974) The Middle School ‑ Portugal and The U.S.A.. Evanston, Illinois: School of Education, Northwestern University. (tese de Mestrado, mimeografada)

 

Cavaleiro e sua montada
 
O hipismo é, inesperadamente, uma modalidade presente em várias ilhas de Cabo Verde. Vinte e um cavalos estiveram presentes na prova do Dia do Município de S. Vicente, na verdade a efeméride da descoberta desta ilha, em 22 de Janeiro de 1462.
Ambiente
 
Não existe um hipódromo, mas isso não é problema: uma pista de terra batida junto ao mar serve perfeitamente, ainda que os cavaleiros e o clube local Conquista - Criadores de Cavalos reivindique ao município uma pista, pelo menos, em melhores condições.
Equipa vencedora
 

Os cavalos presentes vieram das ilhas de S. Vicente, Sal, Fogo, Boa Vista e Santo Antão. Fogo é, talvez, aquela em que a actividade hípica tem sido mais activa nos últimos anos. 

 
 Partida
 
Competição

 

 

 

 

Na sequência do texto anterior As Culturas nas Escolas – Introdução e antes de descrever e apresentar o estudo anunciado, discutem-se aqui as variáveis que serviram de indicadores à medição das culturas na escola.

A nacionalidade e o país de nascimento são as variáveis mais simples e imediatas que apontam para a cultura subjacente dos indivíduos. A nacionalidade do aluno é o indicador usual registado pela escola. O país de nascimento, que nem sempre coincide com a anterior, põe em evidência os antecedentes dos alunos, revelando assim a presença de outras origens que não a portuguesa. Contribui para este quadro o país de nascimento dos progenitores, que revela adicionalmente os casos em que os alunos, apesar de serem portugueses, possam estar expostos a – e, portanto, adquirir – outras culturas.

Sendo assim, faz-se distinção entre nacionalidade e país de nascimento. A nacionalidade é uma formalidade legal que, por isso, pode ser adquirida posteriormente ao nascimento. Isto significa que uma pessoa pode nascer num país (adquirindo a respectiva nacionalidade), onde necessariamente ficará exposto à cultura local durante a sua formação, e obter, posteriormente, outra nacionalidade. Neste caso, a cultura correspondente à segunda nacionalidade adquirida pode ter uma influência variável no seu comportamento, o que depende de variados factores, os mais óbvios (1) o tempo de permanência no seio da “nova” sociedade e (2) o grau de convívio e participação da pessoa com os membros da “nova” cultura.

Da mesma maneira, um aluno que possua os progenitores nascidos num país diferente encontra-se profundamente marcado pela cultura desse país, que é a prevalecente nas relações familiares, antes (e simultaneamente) de ser exposto e se integrar na cultura do país onde reside, neste caso, Portugal. Por esta razão, conhecer o país de nascimento, tanto do aluno como dos seus pais, é fundamental para saber que culturas se encontram em presença na Escola e, por isso, influenciam o seu ambiente, as suas relações humanas e os seus resultados.

Os próximos textos relatarão a recolha de dados e os respectivos resultados.

Maria Catela

foto do autor

"A memória é a consciência inserida no tempo." Fernando Pessoa

Feedback

  • Claudemir

    Olá ProfessoraGostaria de enviar-te um e-mail com ...

  • João Sá

    Bom dia :)O blog está em destaque na homepage dos ...

  • M.E.C.

    Olá! Que bom - toda a divulgação é uma ajudinha......